domingo, 29 de maio de 2011

Poético I

Desilusão rima com Munição



A mesma que trago na mão



Socada numa Smith & Wesson, 32,



Em sua cara, que já não rima .







segunda-feira, 16 de maio de 2011

Morte no Céu

Prefácio




Antenas. Em casas estendidas, sustentadas pelos tempos, lá estão. Arame que ergue toda vida não visível, circuitos imaginários chamados religiosamente de ondas. Sem cerimônia, onde quer que estejam, transpassam nosso peito, unindo-se a marca-passos, batendo num ritmo incomum. Onde há ondas, há também antenas nunca desligadas.


Pois somos antenas.


Da casa humilde ao arranha céu, permanecemos eternamente unidos. Sintonizamos a mesma vida, acordando, rezando, comendo ou dormindo. O altar é feito de antenas, cabos enrolados aos corpos nus da assembleia. A tevê que rege a oração assim será. E depois, terminada a grade, chega a vazia hora do final feliz. - Clicks. - só antenas não são desligadas, estão todas de prontidão. Na próxima atração, um novo programa a moldes antigos, um temporada com dia e hora para acabar, o herói que nunca morre mesmo quando assassinado em pleno horário nobre. E aquele vilão, que sempre vilão, foi herança do tempo de meus pais e dos pais deles. Por todos os anos, ondas hão de girar hipnóticas.


E quem comanda as ondas?




Capítulo Um - Morte no céu



Netuno, deus supremo das águas e do mar, escolheu não viver. Descontente com suas águas, nem a ira das tempestades ou a fúria das enxurradas deram-lhe ânimo novo. Sua decisão estava feita: obstinado a pular no ar, sem muitos acréscimos, sob júri e guia dos olhos-águias.


Nenhum deus o impediu.


O dia iluminava-se amarelo-laranjado, ondas girantes concêntricas, e seus passos miúdos simulavam a chegada de um rei. Assim acompanhei, fiz plateia com os ventos e os pássaros. Ao emergir para o ar, dançou agonizante, acima das ondas concêntricas - pernas e braços de um rei epilético e destronado, o ultimo suspiro de um deus afogado no céu.


Em luto, mar e ondas pararam. Sem um mestre propondo regência, águas congelaram mesmo líquidas. Nenhuma gota, uma sequer, moveu-se após a morte de Netuno. Sem ondas no mar, nada de ondas no céu.


Os poucos que couberam-se lúcidos substituíam antenas. Esforços vãos. As ondas morreram, Netuno morreu. Todas as antenas da cidade desligadas.


Pelo resto da vida, choveu luz.

terça-feira, 8 de março de 2011

Mande notícias

Última vez que a ví estava a mala pronta, cabelos desgrenhados, roupa justa e surada. Era outra pessoa e buscava se encontrar.

Quando saiu prometeu notícias. De lá pra cá, meus dias são anos.O tempo se encarregou em amarelar fotos. Dela, só postais brancos recebí. O porque não entendo.

A família pergunta, os amigos comentam, não sei responder.

Colho suas pistas, decifro a história como quem lê o diário. O que sei não ví.

Do jeito que sempre esperei

Percebi que quem falta não faz falta; que estou, em mim, concluído; que tudo é melhor no último episódio; que vida de merda é a dos outros.


Sem recall por hoje, nem pelo resto da semana.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Consente

O que te assusta? Seria dar um sorriso algo mais que sorrir? E, se te arrepia, é porque...

Espere! Alguém te encontra, encara e te quer, e você se curva sem aprovação? Ficar só? uma hora os olhos que te desejam não estarão...

Arrepio.

Pensando assim, quanto arrependimento te traz? Foi o que você quis, foi querendo, talvez não - acredito - mas é você quem não quer? Ou quer? Não há nada, nem motivos, nem desculpas, então..

Ressistir?

...


O que? o que? Ah, é você. Outra vez atrás de palavras. Teu silêncio é melhor.